Para provar que a tradição está viva se nós o desejarmos, o casal de noivos, que contraíu matrimónio este fim-de-semana, não se poupou a esforços para que o seu casamento fosse tradicional.
Ainda que ambos residam em Lisboa, os dois jovens quiseram casar na simpática capela de Nosso Senhor dos Aflitos, na Roda Fundeira, onde remontam as suas origens.
Muitos de certeza não sabem onde fica situada esta aldeia e outros perguntar-se-ão que interesse pode ter a leitura deste capítulo… Pois bem, aos primeiros respondo: Roda Fundeira, uma pequena aldeia serrana, fica situada perto da Lousã, mais propriamente na freguesia de Alvares. Aos segundos respondo com outra pergunta: porque não seguir o exemplo e realizar um casamento tradicional? Leiam o capítulo até ao final e decidam…
Para chegarmos à Roda Fundeira, temos de deixar-nos levar por uma estrada ziguezagueante, que parece nunca mais terminar, mas que nos dá a conhecer terras onde ainda se vive um dia-a-dia simples e pacato, dedicado principalmente à exploração florestal e à agricultura.
Depois de ter tomado o pequeno-almoço na casa do noivo – hábito comum – o surpreendente foi que não tive de voltar ao carro para me dirigir à igreja. Segundo fui informada, a igreja ficava a cinco minutos e, quando chegou a hora marcada, a pé, os convidados do noivo, seguiram-no a ele e aos seus pais e padrinhos.
Pelo caminho passámos por casa da noiva, como era costume na aldeia, para que a noiva fosse informada que o seu noivo se dirigia para o altar. O noivo não quis cumprir à risca a tradição de ir buscar a noiva a casa, talvez para não quebrar com a superstição que diz que o noivo não deve ver a noiva antes do casamento. Passados alguns minutos, começámos a ver os convidados da noiva a entrar na igreja, sinal que a noiva já tinha chegado, acompanhada das suas duas meninas das alianças, vestidas de igual, e de seus pais e padrinhos como é tradição.
A celebração do casamento ocorreu dentro da normalidade, só se tendo estranhado o facto de o padre não ter pedido para os noivos selarem o casamento com o habitual beijo…
Depois de assinados os livros paroquiais e no momento da felicitação dos noivos, no adro da igreja, a noiva foi dando amêndoas a quem a cumprimentava, para assim cumprir a tradição de retribuir os votos de felicidade dos seus convidados.
Seguiu-se então o copo d’água, no Hotel Varandas do Zêzere, situado no Monte Senhora da Confiança, em Pedrógão Pequeno, de onde se podia avistar a imensa Barragem do Cabril. O local surpreendeu tudo e todos pela espantosa paisagem que o envolvia e só se teve pena do vento que nesse dia fazia e que não convidava a passear junto da enorme piscina do Hotel, onde os convidados foram recebidos.
A festa seguiu normalmente, acompanhada por música tradicional e por comida bem confeccionada e os convidados – mais precisamente as convidadas – foram ainda surpreendidos por um brinde bastante original – um frasquinho de mel (o alimento que mais perdura no tempo) da Roda Fundeira – que com certeza vai ser utilizado por qualquer dona de casa que se preze.
Vivam os noivos!
*^_^*
terça-feira, 11 de maio de 2004
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1 comentário:
Olá, Sónia, sou a Cristina, "a noiva" do teu artigo... e posso dizer-te que me comovi ao lê-lo!
Como comecei pelo primeiro artigo que escreveste, percebi a tua motivação... é emocionante prepara um casamento e derrepente, um novo mundo de conhecimentos e tradições abrem-se diante dos nossos olhos pasmados por um mundo antigo que gostaríamos de recuperar. Bem, quero dizer, esse foi o nosso caso!...
Foi complicado decidir que íamos casa na Roda Fundeira até termos completado a lista dos convidados e olharmos para ela "com olhos de ver". Pensavamos que a deslocação dos convidados seria bastante difícil de conseguir, mas depois reparámos que, como as nossas duas famílias são de lá oriundas, quase todos tinham casa lá ou muito próximo (obviamente!) e que, como tal, seria apenas mais uma visita de fim de semana com uma actividade diferente... a verdadeira dificuldade esteve em providenciar o alojamento para os amigos que, esses sim, vinham de longe e não tinham casa para ficar... daí também a escolha do local do copo d'água. Para além, claro, da vista e de termos achado o espaço muito agradável!
Os nossos padrinhos foram os de baptismo, como manda a tradição. Mas porque nos faz muito sentido também, porque nos damos lindamente e tivemos gosto nisso.
Também como manda a tradição, a aldeia (por muito pequena que seja) movimentou-se para nos ajudar: como os pais foram uma semana antes, uma senhora ofereceu ovos às duas mães, o que antes se fazia para que não faltassem as filhoses (feitas por tias) ou o pão de ló; outra ofereceu-se para fazer um bolo que sabe que ambos gostamos;
No dia do casamento de manhã, no pequeno almoço que se oferece aos convidados, para além dos salgadinhos e doces habituais, havia ainda o entrecosto e o lombo assados no forno, acompanhados pela broa acabada de cozer, outra das comidas típicas de lá. Também era tradição a noiva servir o almoço no dia seguinte, o que foi mais ou menos cumprido.... pelo menos estivemos lá para receber as pessoas, embora não tenhamos sido nós mesmos a servi-las e sim amigos e família (primos, madrinha, tias), também convidados do casamento. Aí, outra das tradições foi cumprida: os noivos tiveram um pratinho (grande!) de arroz doce com as suas iniciais e a data do seu casamento "bordados" a canela....
Foi muito engraçado sentir o apoio das pessoas: as cadeiras em que nos sentámos foram de uma tia, outros tios e primos ajudaram a decorar a capela... foi muito engraçado ver as pessoas mobilizarem-se para que tudo corresse bem.
Outra das tradições que havia era as raparigas fazerem um arco de flores para enfeitarem o caminho para a capela para os noivos, e fazerem também o ramo da noiva... neste caso eu queria fazer o meu ramo e a minha mãe confidenciou-me que o arco ainda esteve para acontecer, mas foi impossível pela chuva que caiu durante toda a semana.
Posso ainda acrescentar que, como também era tradição, eu levei ao pescoço um cordão de ouro, com a "famosa" libra. Mas estes tinham para mim um significado especial: tinham ambos pertencido à minha avó! A própria escolha dos nossos fatos teve a ver com o casamento ser na Roda Fundeira e querermos que fosse "à moda antiga". Para quem gosta de coisas simples, nada melhor que um fato e um vestido que pudessem parecer intemporais....
E finalmente, as mesas... reis e rínhas, filmes ou simples números nada nos diziam. Como era na Roda Fundeira... nada melhor do que alguns recantos que trariam recordações a quem os caminhou descalços, ou cenas e animais que pode ver enquanto se semava qualquer coisa, ou guardava o gado... e daí a ideia das fotos, que, claro está, só poderiam estar presas em pinhas! Apanhadas na Roda Fundeira!
Não queria fazer um "testamento", nem um guia de preparação de casmaentos... quando comecei, a minha ideia era apenas dizer que gostei do teu artigo e que nos sensibilizou perceber que as pessoas se sentiram agradadas com algumas atenções que tivemos na preparação do casamento/recepção, bem como que nos sentimos muito felizes nesse dia por podermos partilhar com elas o nosso gosto pela aldeia (que é de todas elas) e pelo que constantemente aprendemos com ela, as suas gentes e a beleza que descobrimos na sua simplicidade de ser serrana. O dia do casamento é um dia muito especial e o tempo não chega para saborearmos a companhia de todos e para lhes dizer o quanto nos tocam os seus gestos... como este que tiveste. Obrigada!
E, já agora, desejo que os teus preparativos corram tão bem quanto os nossos, e que ao fim do dia a vossa sensação seja no mínimo idêntica: que foi um bom começo para algo que se quer muito especial.... ;)
Cristina.
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